terça-feira, 14 de julho de 2009

Diplomas e História

Interessante a abordagem para um tema muito debatido ultimamente

O que tem a ver a polêmica surgida com a derrubada do diploma de jornalista pelo STF com o descobrimento do Brasil?

Vamos lá. Todos sabem que a chegada dos portugueses às nossas terras - a que alguns ainda chamam de "descobrimento" - deu-se no ano redondo de 1500. O que nem todos se lembram é de que, quando aqui chegou o almirante Cabral e o seu escriba Pero Vaz, nascido no concelho de Caminha, próximo à fronteira de Espanha, já os dois superpoderes ibéricos haviam conchavado com o papa Alexandre VI - seis anos antes, na cidade de Tordesilhas - para que todas as terras "descobertas e por descobrir" fossem repartidas entre eles. O velho continente vivia os últimos anos do sistema feudal, que havia vigorado por uns bons 500 anos, e se caracterizava por uma grande simplicidade sistêmica: o soberano mandava em tudo, inclusive nos nobres, que mandavam nos camponeses - sendo que "camponeses" eram todos os que não eram nobres.

Tudo vinha de cima, por outorga ou decreto, do rei aos nobres e destes a outros nobres. Povo, claro, não existia.Assim estabeleceram-se por aqui os portugueses, descendentes de Cabral, Caminha, etc. e - durante outros quatro séculos - cuidaram de que fosse mantido o tal sistema feudal, tão simples e tão prático, enquanto - na Europa, o único primeiro mundo da época - aconteciam coisas como o Renascimento, o Iluminismo, a Revolução Industrial, etc. Não vou repassar aqui toda a nossa História, mas tem a ver com o sistema das capitanias que precederam os atuais estados (embora alguns tenham mantido o sistema de hereditariedade vitalícia), a proibição de equipamento de imprensa e o exercício do comércio - que, até bem perto da independência, em 1822 - só era concedido aos portugueses natos.
Coloquei o provérbio sobre o uso do cachimbo lá em cima porque - como costumava repetir o embaixador e ministro Roberto Campos (cujo fantasma inteligente assusta muita gente até hoje) - temos um hábito renitente, em nosso país, de dedicarmos imenso esforço e energia na busca de soluções para falsos dilemas e problemas inexistentes.A exigência de um pedaço de papel impresso para o exercício de qualquer atividade profissional é apenas um resquício da tradição feudal das benesses e outorgas reais.
Como está muito entranhada na nossa cultura (afinal de contas, mil anos - os 500 lá, mais os 500 aqui - é tempo pra cachorro) a condição chega a parecer correta a muitas pessoas, que também costumam achar razoáveis medidas corporativistas e de reserva de mercado. O que - de novo - é simples e natural reflexo da natureza humana para a qual uma das leis maiores é a do mínimo esforço. Prova disso é que até capitalistas convictos - curtidos nas porfias pelo mercado - transformam-se e respiram aliviados, quando se lhes é oferecida a oportunidade de usufruir de um aconchegante monopólio...O mérito individual como critério de seleção social, em qualquer setor, certamente incomoda a alguns - e talvez exacerbe seus complexos de culpa; mas não pode haver nada mais justo.

J. Roberto Whitaker Penteado
é um dos mais conhecidos e respeitados profissionais de marketing do Brasil. É membro do Conselho Superior da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) - instituição à qual está ligado há mais de três décadas. Foi diretor do primeiro curso regular de marketing no Brasil, criado pela Fundação Brasileira de Marketing, em São Paulo. Exerceu funções executivas em empresas brasileiras e multinacionais. Jornalista colaborador em muitas publicações, é também professor, conferencista, consultor de empresas, escritor e poeta.
Como executivo, iniciou sua carreira em Marketing na Cia Nestlé, nos EUA. Exerceu cargos nas empresas Refinações de Milho Brasil; Reckitt & Colman; Editora Abril; Almap/BBDO e L'Oréal. Tem sido um defensor constante da correta aplicação das técnicas e métodos de Marketing à realidade econômica e cultural do Brasil.
Sua formação acadêmica inclui graduações em Economia e Pedagogia, mestrado em Ciências Políticas (IUPERJ) e doutorado em Comunicação e Cultura - ECO/UFRJ, com a Tese "Os Filhos de Lobato". Foi aluno do Instituto Carlos A. Werneck de Petrópolis.
Tem 8 livros publicados. Foi também o redator e coordenador do "Codigo de Etica do Profissional de Marketing" do Brasil.
Atualmente, dirige o Instituto Cultural da ESPM, em São Paulo.

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